A galinha de bloquinhos lego

Recentemente li um artigo em um site de halterofilismo sobre os alimentos que aumentam a força do ser humano que me chamou a atenção, não por que ele contivesse alguma descoberta milagrosa, mas por, em pleno século XXI, ainda existirem pessoas que acreditem nessa possibilidade.

Desde tempos imemoriáveis existe essa crença no poder dos alimentos, seja para o aumento da força ou da virilidade. Na nossa cultura mesmo encontramos vários exemplos que vão dos ovos de codorna a pfafia paniculata, se bem que esta última até contem alguns princípios ativos interessantes.
Mas e os alimentos? Como um caldo de mocotó ou uma buchada de bode pode aumentar a força de um ser humano?
escultura de lego
Para entendermos de uma vez por todas, e também para que consigamos explicar para as pessoas que ainda insistem nessas crendices, a melhor maneira é recapitularmos nossas aulas de bioquímica e fisiologia.

Todo alimento ao ser ingerido vai ser reduzido aos seus menores compostos moleculares para ser absorvido, isto é, um bife, um ovo, uma galinha se tornarão um amontoado de aminoácidos, assim como as batatas, o arroz e o macarrão serão reduzidos a monossacarídeos e o torresmo, o azeite e a manteiga serão reduzidos a colesterol, ácidos graxos e monoglicerídeos.
Só depois, quando esses nutrientes chegarem às células e que o nosso metabolismo celular irá decidir o que fazer com eles, usá-los ou armazená-los.
Caso ele opte por usá-los isso será feito de acordo com as reais necessidades e não onde queremos que eles sejam utilizados. Por isso um whey importado de última geração que custou uma bagatela poderá virar cabelo, unha, pele e até mesmo ser excretado antes de ser usado para aumentar a massa muscular, o que dizer então dos efeitos sobre a força muscular?

Bem, os nossos músculos precisam de combustível para se contraírem e gerarem os movimentos, porém esse combustível é a glicose e o glicogênio, um polímero de moléculas de glicose ao qual o músculo recorre quando é muito solicitado, e mesmo que nos entupíssemos de glicose a nossa força muscular não iria aumentar pois o que a comanda a contração muscular são os impulsos elétricos enviados pelo sistema nervoso às fibras musculares que, segundo ENOKA ( 2000 ) dispõe de três mecanismos fundamentais para regular a intensidade da contração muscular:
1 – o número de unidades motoras recrutadas,
2 – a frequência de ativação das unidades motoras,
3 – a sincronização da ativação das unidades motoras

E isso nós só conseguimos com o treinamento que nos permitirá adquirir um controle maior sobre nossos movimentos, mas se quiser se entupir de caracu com ovo de pata e paçoquinha e isto o faz se sentir mais forte, vá em frente, afinal o efeito placebo faz milagres.
No entanto faria mais sentido procurar ter na alimentação diária os nutrientes que o corpo precisa para manter o sistema nervoso em dia, principalmente os que ele precisa para a manutenção da bainha de mielina, que é um tipo de isolante elétrico que permite uma condução mais rápida e mais eficiente dos impulsos elétricos, e ela é formada basicamente por ácidos graxos cujas melhores fontes são linhaça, abacate, óleos de peixe, salmão, sardinhas, nozes, feijão, lentilhas, etc.

Bom apetite.

Bibliografia:
ENOKA, R. Bases Neuromecânicas da Cinesiologia. 2ª ed. Manole, São Paulo. 2000.


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