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A alienação corporal pesa mais sobre a mulher

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Como se expressa a alienação corporal? Como podemos identificar sua expressão na vida social?

Existem várias manifestações patológicas da alienação corporal:
– desordens alimentares
– insatisfação com a própria imagem / desordens dismórficas
– sedentarismo (sim, considero sedentarismo um comportamento patológico)
– desordens sexuais
– fracasso na adesão a programas de atividade física
– fracasso na adesão a tratamentos de saúde que requerem pro-atividade

1. Desordens alimentares

Ao contrário da literatura mainstream, eu faço uma distinção entre os comportamentos voluntários e os involuntários neste caso. Existe uma epidemia de sobre-alimentação na sociedade não necessariamente associada a um comportamento patológico, e sim como resultado da vitimização do indivíduo pouco informado ou pobre pela indústria alimentícia. Esse indivíduo se sobre-alimenta INVOLUNTARIAMENTE, já que as doses de alimento nas refeições suficientes para satisfazê-lo têm um conteúdo calórico muito superior ao seu consumo fisiológico e ele não sabe disso. É o caso do pobre ou indivíduo sem acesso a informação que consome fast food e ingere mais de 1500 calorias apenas em sanduíche e refrigerante.
A sobre-alimentação VOLUNTÁRIA é outro caso: é o comportamento dos indivíduos que têm acesso a informação suficiente para muni-lo com ferramentas decisórias e que DECIDE fazer superavit calórico. Ele sabe que as consequências serão aumento de peso ou manutenção de seu sobre-peso, e ainda assim mantém o mesmo comportamento.
A sub-alimentação  voluntária está envolvida nas causas das desordens dismórficas da anorexia e bulimia, enquanto a involuntária ocorre em situações de fome endêmica.

“Overeating” (sobre-alimentação) e suas consequências, o sobre-peso e a obesidade, a anoexia e a bulimia são desordens de causas complexas, mas têm algo em comum: o corpo é externo ao portador. Ele DECIDE não atender a uma demanda fisiológica porque a demanda é de “alguém mais”, e não dele. Não é “ele” que ganhará excesso de gordura ou perderá peso através do comportamento, e sim “seu corpo”. O corpo é um fardo, um problema, algo inclusive odiado, porque rebelde e fora de controle.

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Você e os indicadores de saúde

O que cargas d’água faz um geólogo escrevendo sobre saúde?
De um tempo pra cá, passei a me preocupar um pouco mais com a saúde. Acho que são os 40 se aproximando e a certeza da mortalidade. Por outro lado, há muitas coisas que eu ainda não fiz e não estava conseguindo fazer, preso na minha prisão portátil: a obesidade.

No meu primeiro artigo, Ex-obeso… uma leitora fez o seguinte comentário: “Mais importante que o marcador da balança é saúde.”
Foi o mote para escrever este.

O que são indicadores de saúde

Indicador é qualquer coisa que eu posso “medir” e que, como diz o nome indicam alguma coisa.

Normalmente usamos indicadores para avaliar alguma coisa que não conseguimos definir direito, ou que é simplesmente muito complicada para entender por alto. Nesse caso, preferimos trabalhar com uma quantidade menor de “números”, que facilita entender o que está acontecendo.

Por exemplo, como definir o que é saúde? Eu diria que é muito mais que a ausência de doenças. Eu diria que é a ausência da probabilidade (no sentido estatístico) de uma doença.
Por exemplo, se sua pressão arterial está dentro de uma faixa de valores (abaixo de 140/90 mmHg, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão), dizemos que a pressão está boa. É um indicador de saúde.

Sua frequência cardíaca é outro. É comum ouvirmos que um adulto normal tem frequência cardíaca em repouso entre 60 e 90 (batimentos por minuto- bpm). Se você é atleta, pode ter bem menos. Ayrton Senna, por exemplo tinha perto de 50 bpm em repouso. Se sua frequencia está muito alta, ou é irregular, é uma indicação que algo não está bem.

Podemos então, enumerar uma série de indicadores de saúde: peso, IMC, %BF (porcentagem de gordura corporal) freqüência cardíaca, pressão arterial, colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos, glicemia em jejum, etc, etc…

O problema com os indicadores

O problema é que muitas vezes, esses indicadores são tratados apenas como números num papel. A pessoa do outro lado só quer que eles fiquem num determinado patamar. O que acontece frequentemente é que esses números indicam a condição de um determinado subsistema metabólico, isolado dos demais.

Pense num piloto que voa seu avião olhando apenas para o painel de instrumentos: altitude correta, combustível suficiente, pressão do óleo boa, temperatura do motor, vôo nivelado, trem de pouso recolhido e travado, direção correta. Tudo bem, certo? Errado, ele esqueceu de olhar para fora e não percebeu que um leve vento o tirou da rota planejada e agora está indo direto para um morro!

Alguns profissionais esquecem de olhar o conjunto. O corpo humano é um sistema. Você não tem nada sobrando no seu corpo e tudo o que está ali tem um motivo. Pode ser que não saibamos ou não entendamos sua razão, mas sobrando, não está.  Só separamos o corpo em sistemas poque é mais fácil entender as coisas separado, mas muitas vezes, esquecemos de juntar e perceber que tudo funciona em conjunto. Se uma partezinha sair lugar, pode desajustar a máquina toda.

Um exemplo disso é a gordura corporal. Até pouco tempo atrás se achava que era só “banha”, sem nenhuma função. Mas de uns tempos pra cá, se sabe que ela também tem função endócrina (é um órgão!) e secreta alguns hormônios, entre eles a leptina, responsável pela saciedade.

Então, quando você pegar seus exames no laboratório e estiver escrito algo na linha “estes resultados devem ser avaliados por um profissional”? Eu diria mais: estes resultados devem ser avaliados por um bom profissional, muito competente”.


Obesidade como Sintoma

Os "centros de prazer" em atividade, durante uma Ressonância Magnética

Os “centros de prazer” em atividade, durante uma Ressonância Magnética

Não peguem muito no meu pé, pois este artigo é mais ou menos autobiográfico…

Estou mais ou menos convencido, sem qualquer base científica ou filosófica, de que a a obesidade é um sintoma e não uma doença.
Se ela própria fosse uma doença, não precisaria de causas. No entanto, sabemos que a obesidade tem causas. Continue lendo


O peso da pobreza: sobre-alimentação involuntária nos segmentos socio-economicamente desprivilegiados

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Epidemia é definido como um fenômeno em que a incidência de um determinado problema de saúde excede o que é esperado em termos do comportamento anterior da mesma. A incidência de qualquer condição pode ser medida e modelada quantitativamente. Quando a curva de incidência no tempo muda seu comportamento e passa a aumentar mais, temos uma epidemia.

Definitivamente, temos uma epidemia de sobrepeso e obesidade, cujas causas têm sido debatidas por diversos grupos e autores, em congressos, comissões especiais e órgãos governamentais (aqui aqui).

O conhecimento científico sobre um fenômeno epidêmico segue o mesmo com maior ou menor discrepância temporal. O aumento da produção científica sobre sobrepeso, sobrealimentação e obesidade obedece uma curva exponencial a partir dos anos 1990. Isso reflete tanto a consciência pública em relação à relevância do problema como a maior importância da área da epidemiologia nutricional. Continue lendo


A linha tênue entre Saúde e Estética

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(este texto foi originalmente publicado em 2007 e fundamentou a proposta do meu livro “saúde e estética” – reproduzo aqui por afinidade no projeto)

Anteontem recebi um e-mail de um amigo (vamos chamá-lo de “amigo 1”) que me pediu ajuda com uma questão de saúde. Não muito diferente de outros que recebo de gente que me identifica por aqui, pelo meu site ou pelo orkut: um homem sedentário com sobrepeso acentuado que não está satisfeito com essa condição. Este homem não está satisfeito nem com a própria aparência, nem com a sensação geral de mal-estar associada à condição. Me disse que se sente bem quando pratica algum exercício, mas que seu médico (cujo CRM no mínimo deveria ser cassado) pediu que ele não praticasse atividade física alguma. O médico anti-ético, desinformado e mal-formado não é assunto desta crônica – são a maioria e já tratei deles em outro artigo. Continue lendo