Por que Proatividade

paleo meal

Por que “Proatividade Alimentar”

Todos os que iniciamos e apoiamos este projeto temos em comum uma perspectiva quanto ao papel da alimentação, de seu conhecimento, informação e controle. Entendemos que o papel da adoção de um regime alimentar planejado, baseado em informações e posturas conscientes e controlado pelo próprio seguidor da mesma, é a base para não apenas a profilaxia, manejo e cura de muitas das doenças não transmissíveis,  como também um dos passos fundamentais para a integração corporal. As doenças não transmissíveis são responsáveis pelas mais altas taxas de morbidae e mortalidade atuais. A alienação corporal, cuja reação contrária é a integração corporal, é um dos movimentos humanos mais fundamentais em direção à saúde física, psíquica, espiritual e social.

Todo animal tem uma . Dieta é a composição das refeições de um dado período de tempo por um animal. Os humanos podemos ter dietas inconscientes ou conscientes. A grande maioria da população segue dietas inconscientes: não sabe o que, quanto e por que está ingerindo o que ingere, não conhece suas necessidades e ignora fatos relevantes sobre metabolismo e fisiologia.

A dieta consciente é aquela adotada segundo um conjunto de decisões baseadas na melhor e melhor manipulável informação técnica disponível para aquele indivíduo em particular, bem como um nível de auto-conhecimento psíquico que permita que o indivíduo identifique os aspectos emocionais de suas iniciativas alimentares.

Entendemos que para uma dieta consciente é necessário uma apreciação das questões econômicas, históricas e evolutivas envolvidas na disponibilização, comercialização e consumo dos alimentos pelas pessoas. É preciso alguma compreensão sobre o funcionamento e lógica da indústria alimentícia e farmacêutica, da historicidade das opções alimentares e da disponibilização de alimentos, e da disparidade entre a demanda metabolica real e a composição da dieta de cada indivíduo. A demanda metabólica real é extremamente heterogênea na espécie humana e em grande parte geneticamente determinada. Toda dieta é, portanto, individual.

A indústria alimentícia oferece opções de consumo em grande parte perniciosas à saúde humana, com conhecimento de tal fato. A lógica que rege este comportamento, como em qualquer sistema corporativo, é a do lucro, e não o respeito às demandas nutricionais reais das populações humanas.

Em consequência disso, a população adoece: a epidemia de obesidade, as altas taxas de diabetes tipo 2, a hipertensão e outras doenças cardiovasculares, as doenças renais e hepáticas, são resultado deste consumo alimentar incongruente com as demandas nutricionais humanas.

Com o peso gigantesco destas morbidades, a indústria farmacêutica lucra com a oferta de produtos medicamentosos para o manejo das mesmas.

A disparidade entre os hábitos alimentares contemporâneos e nossas demandas nutricionais é produto destas determinantes históricas, econômicas e políticas combinadas à grande estabilidade genética de nossa espécie no curto período histórico do aparecimento e desenvolvimento de tais tendências. Assim, nosso genoma é produto de pressões evolutivas que o tornaram adequado para uma disponibilização de alimentos num período histórico de alguns milhares de anos atrás, disponibilização esta que em nada se assemelha à atual.

O resultado disso é catastrófico, caracterizado fundamentalmente pela sobre-alimentação involuntária baseada em alimentos com os quais nosso organismo não está programado para lidar nas quantidades oferecidas: açúcares de alto índice glicêmico, gorduras trans , grande quantidade de sódio, entre outras.

A epidemia de obesidade é um fenômeno mais recente do que as mudanças na disponibilização de alimentos no sentido de distanciar-se de nossas demandas reais. Ela está relacionada com fenômenos macro-econômicos do pós-guerra (anos 1950s em diante).

No entanto, não apenas as indústrias alimentícia e farmacêutica se desenvolveram em tandem nestas últimas décadas. A indústria da beleza – este complexo que compreende a indústria da moda, do fitness, cosmética, de medicina estética, de cirurgias plásticas, editorial e de entretenimento – produziu com grande eficiência ideais estéticos inalcansáveis que balisam a busca pela forma perfeita pela população.

Esta busca gera não apenas consumo desenfreado por produtos que a prometem, como ansiedade, depressão e outros estados emocionais conducentes a comportamentos destrutivos.

Assim, a prescrição ideologizada de dietas para perda de peso e busca da forma ideal é fomentada pelo marketing da indústria da beleza em detrimento da saúde individual e pública. Grandes males são gerados por este aspecto da alienação corporal criada e mantida pela indústria da beleza, com alto retorno financeiro.

Nosso entendimento é que a prescrição, editorial ou por profissional da saúde, de dietas para a “boa forma” é uma perversão da necessidade de um comportamento alimentar consciente. O resultado é mais alienação e menos saúde. Portanto, nos opomos ao discurso da dieta associada à boa forma.

Por outro lado, uma nova tendência nos movimentos sociais tem surgido para combater o discurso da dieta para boa forma que consideramos igualmente negativa. São os do ativismo gordo (“fat activism”) e seus aliados, que manipulam os dados de pesquisa para defender a tese de que o sobrepeso não é pernicioso à saúde. São os discursos que resultam nas reivindicações de “chega de dieta”, “dieta é opressão”, entre outros motes.

Infelizmente, a penetração destes discursos nas camadas mais educadas da população tem sido alta visto que seus propaladores se identificam socialmente com estes segmentos. Nossa elite simbólica – a camada mais educada de uma sociedade e produtora dos discursos com legitimidade e autoridade – está contaminada por esta perspectiva movida por interesses contrários ao bem estar e saúde públicos.

O que nossa proposta apresenta é um trabalho de reunir a produção daqueles que se opõem aos dois falsos polos da discussão sobre dieta e composição corporal com altas taxas de gordura. Ao mesmo tempo que nos opomos ao discurso superficial, fútil e baseado na lógica de lucro da indústria da beleza, nos opomos também ao discurso irresponsável, revanchista e ideologizado da oposição à adoção de dietas conscientes.

Como profissionais da área da saúde com legitimidade e autoridade para aprofundar as questões envolvidas neste sério problema de saúde pública, nos reunimos para propor uma outra abordagem à falsa polaridade citada.

Propomos a PROATIVIDADE ALIMENTAR expressa numa atitude de busca e manipulação consciente de informação técnica e de auto-conhecimento para empoderar os indivíduos em seu processo de (desalienação e) integração corporal.


6 respostas para “Por que Proatividade

  • Nanda

    Excelente texto! EXCELENTE.

  • Gabriela

    Marília, parabéns pela iniciativa da Proatividade Alimentar. Gostei muito da proposta do blog e da qualidade de seu texto. Fui ler os comentários no perfil do Laerte e, quando vi a sua introdução à “massa-crítica” que tinha invadido lá, já imaginei o que estava por vir. Pela minha experiência pessoal, a maioria das pessoas gordas que conheço o são por falta de informação consistente; por não conhecer os reflexos de uma vivência positiva da alimentação – para além dos resultados estéticos, mas de satisfação diária mesmo; por falta de organização; por ligação afetiva aos alimentos e, mais ainda, por condicionamento emocional à hábitos alimentares nocivos; e até mesmo uma postura um tanto desistente quanto à perspectivas de mudanças (qualquer que seja) – não que isso seja fácil, nem que “desistir” seja um comportamento isolado de uma rede de coisas, ou que essas pessoas sejam menores que as outras, enfim… A discussão é muito mais complexa do que “a moda nos oprime e a gente gosta de ser assim”. Eu mesma peso pouco e não tenho uma musculatura preparada nem pra proteger meus ossos, sinto muitas dores articulares e tenho anemia qse todo ano. Não é porque meu corpo é considerado “bonito” (???) que eu estou ou me sinto bem. E o blog não se posicionou contra as pessoas gordas, absolutamente, nem mesmo instaura um padrão estético ou mesmo de saúde a ser almejado. Ele propõe, antes, uma reflexão do que é, afinal, saúde e de como esses dois extremos (interesses farmaceuticos, da industria alimenticia e da moda x fat activism) traz uma adesão rápida carente de reflexões sempre necessárias. Claro que se pode escolher ser gordo. Claro que todos merecem ser respeitados, amados e desejados e que certos imaginários produzem rejeições coletivas a um sujeito que apenas se encaixa no padrão marginalizado. Mas às vezes me parece que essas pessoas que fazem esse tipo de militância se fixam mais em labels e palavras-chave do que nas propostas. A própria insistência no uso da palavra dieta que vc explicita ao explicar o conceito no texto (todo mundo que come tem uma dieta, oras!) já quebra esse jargão das revistas de moda. E ainda tiveram a (in)capacidade de revogarem “dieta é sempre ruim”… Ai… rs
    Enfim, não queria tornar isso um momento-desabafo, mas uma fala de gratidão e admiração.
    Eu acompanho um blog de dieta vegetal que tem também muitas informações sobre alimentação e propriedade dos alimentos, além de receitas deliciosas. Se quiser, garanto que vale a pena conferir pela delícia que é, rs! http://papacapimveg.com/

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