Debate: a quem interessa não desenvolver políticas de combate às desordens do sedentarismo e má alimentação

O debate abaixo foi uma atividade feita online no dia 3 de março, pela página do Facebook do projeto “(Marilia Coutinho)”.

disease industry

 

Questão aberta: A Organização Mundial de Saúde identificou, em maio de 2004, que 60% da morbidade e mortalidade da população humana estava relacionada com a alimentação inadequada e a inatividade física. Ou seja, estamos comemorando 10 anos desta constatação, sem grandes avanços. Por que será que é tão complicado enfrentar a questão?

(Luális Rosa) É uma questão de envolve muitos interesses… A quem importa uma população doente?

(Alberto Sarly Coutinho) População doente alimenta toda uma cadeia: laboratórios e grandes indústrias de alimentos em primeira ordem e todos os seus derivados em cascata. Gente pobre e doente (relação minha, tendo em vista que a grande massa da população mundial encontra-se em na faixa da pobreza) gera MUITO dinheiro!

(Marilia Coutinho) Bom, acho que o Alberto colocou o dedo na ferida: a “indústria da doença” não tem nenhum interesse em que essa pandemia seja resolvida. Então, nesse caso, a ela importa muito uma população doente, pois lucra com isso – e quem paga a conta financeira é toda a população. Quem paga em sofrimento é quem fica doente.

(Alberto Sarly Coutinho) Gente doente se contenta com qualquer alívio, o que fortalece as políticas governamentais de reforço ao sofrimento, apresentação de uma melhoria mínima (que não resolve o problema, mas para quem está sofrendo é quase a salvação), para então se firmar “mamando nas tetas financeiras” do país.

(Marilia Coutinho) Seria talvez como os anti-depressivos, que aliviam “um pouquinho” e logo em seguida requerem outras drogas adicionais ou mesmo substituição por outro anti-depressivo? Manter a população doente por inatividade e má alimentação inativa e comendo mal, mas “um pouquinho” melhor com um anti-hipertensivo?

(Alberto Sarly Coutinho) Hoje em dia é fácil encontrar em farmácias populares os medicamentos para hipertensão (Hidroclorotiazida) e para diabetes (Cloridrato de metformina) dados pelo governo, mas o que as pessoas não se perguntam é quanto foi pago (e é pago) para que esses medicamentos sejam oferecidos à população, que de forma inconsciente sentem liberdade para seguir uma estrutura de dieta que favorece o aparecimento dessas duas pandemias, o diabetes e a hipertensão. Cria-se um círculo vicioso que se alimenta de si mesmo… É triste.

(Luális Rosa) É interessante para quem detêm o poder que nos afastemos de nós mesmos, quanto mais medicalizados, mais nos perdemos daquilo que realmente somos. Nos fazem acreditar que existe uma pilula magica que resolverá todos nossos problemas que está a venda na farmácia mais próxima. E assim alienados de nos mesmos, vamos perdendo nossa essência.

(Marilia Coutinho) Então, Alberto, teríamos um terceiro “ator” com interesses investidos aqui: as burocracias governamentais corruptas. A indústria alimentícia e a estrutura de trabalho e vida urbana, sem espaço para a vivência corporal ativa, proporciona a doença; a indústria farmacêutica produz medicamentos para vender para os doentes, sem obviamente curar uma doença que é de estilo de vida; as burocracias governamentais aprovam a compra em lote dos medicamentos e distribuem à população, que permanece doente. A indústria ganha dos dois lados e a população perde de três formas: ficando doente, pagando impostos e pagando medicamentos. É isso?

(Alberto Sarly Coutinho) O sonho da grande maioria das pessoas é esse, tomar um comprimido e não precisar fazer nenhum tipo de exercício físico, não precisar cuidar da alimentação. O que nos leva a outras duas áreas que se alimentam disso, a indústria dos suplementos alimentares e a indústria das drogas ilícitas, que oferecem todos os anos uma “novidade nova nunca antes vista que poderá resolver todos os problemas”.

(Luális Rosa) Não sei se já viram isso: Pílula é capaz de produzir os mesmos efeitos da prática de exercícios

http://www.minhavida.com.br/alimentacao/materias/3037-pilula-e-capaz-de-produzir-os-mesmos-efeitos-da-pratica-de-exercicios

* – *

(Alberto Sarly Coutinho) Parece existir uma política de descobrimento, confirmação e então a manutenção desse status quo. Encaro a indústria da doença como uma das responsáveis por produzir os reforços negativos que só agravam o estado da população.

(Marilia Coutinho) Alberto, como você acha que se articulam estes interesses? A OMS teria identificado a questão através de um impotente “braço acadêmico” a despeito dos interesses da “indústria da doença” (alimentícia + farmacêutica)? Ou até mesmo a identificação da pandemia teria intersses perversos, para vender mais medicamento, indústria de emagrecimento, etc?

(Alberto Sarly Coutinho) O maior exemplo de alarde feito pela indústria farmacêutica dos últimos anos chama-se H1N1, com uma corrida quase armamentista para a vacinação em massa (o que levou o laboratório GlaxoSmithKline a lucrar horrores).

(Marilia Coutinho) Os carros-chefe da indústria farmacêutica são os anti-hipertensivos, drogas anti-colesterol e psicotrópicos. Você acredita que manter o mito do colesterol como causa das doenças coronárias e vascules, em detrimento da inatividade e consumo de açúcares é algo orquestrado por ela?

(Alberto Sarly Coutinho) Alimentos produzidos com trigo e derivados do açúcar são baratos para a produção e facilmente produzidos em larga escala, assim a indústria de alimentos ganha pelo volume de venda. Alimentos de origem animal precisam de muito mais tempo e dinheiro para serem produzidos, então é mais fácil criar um mito de que o colesterol é ruim e direcionar as escolhas da população para os carboidratos combinados (açúcar + gorduras), assim se mantem toda uma rede de problemas interligada.

(Marilia Coutinho) Interessante! Mas em países de primeiro mundo, o consumo de proteína de má qualidade com grande quantidade de carboidrato de alto IG predomina na alimentação do pobre, muito calcada na fast food. Esse argumento seria então mais válido para países em desenvolvimento e altamente urbanizados, como o nosso?

(Alberto Sarly Coutinho) Aqui temos absorvido a mentalidade “superior” dos país de primeiro mundo e consumindo também esse tipo de alimentos nutricionalmente pobres. Vamos analisar o BigMac? 494kcal, 40g de Carboidratos, 25g de Proteínas, 26g de Gordutas, 60mg de Colesterol. Só essa combinação de ‘nutrientes’ consumidos lá fora e aqui no Brasil tem mais capacidade de colocar um sujeito normal doente do que o mesmo peso (204g) de carne bovina.
A tabela nutricional vocês encontram aqui: http://goo.gl/vU8CZ9


A alienação corporal pesa mais sobre a mulher

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Como se expressa a alienação corporal? Como podemos identificar sua expressão na vida social?

Existem várias manifestações patológicas da alienação corporal:
– desordens alimentares
– insatisfação com a própria imagem / desordens dismórficas
– sedentarismo (sim, considero sedentarismo um comportamento patológico)
– desordens sexuais
– fracasso na adesão a programas de atividade física
– fracasso na adesão a tratamentos de saúde que requerem pro-atividade

1. Desordens alimentares

Ao contrário da literatura mainstream, eu faço uma distinção entre os comportamentos voluntários e os involuntários neste caso. Existe uma epidemia de sobre-alimentação na sociedade não necessariamente associada a um comportamento patológico, e sim como resultado da vitimização do indivíduo pouco informado ou pobre pela indústria alimentícia. Esse indivíduo se sobre-alimenta INVOLUNTARIAMENTE, já que as doses de alimento nas refeições suficientes para satisfazê-lo têm um conteúdo calórico muito superior ao seu consumo fisiológico e ele não sabe disso. É o caso do pobre ou indivíduo sem acesso a informação que consome fast food e ingere mais de 1500 calorias apenas em sanduíche e refrigerante.
A sobre-alimentação VOLUNTÁRIA é outro caso: é o comportamento dos indivíduos que têm acesso a informação suficiente para muni-lo com ferramentas decisórias e que DECIDE fazer superavit calórico. Ele sabe que as consequências serão aumento de peso ou manutenção de seu sobre-peso, e ainda assim mantém o mesmo comportamento.
A sub-alimentação  voluntária está envolvida nas causas das desordens dismórficas da anorexia e bulimia, enquanto a involuntária ocorre em situações de fome endêmica.

“Overeating” (sobre-alimentação) e suas consequências, o sobre-peso e a obesidade, a anoexia e a bulimia são desordens de causas complexas, mas têm algo em comum: o corpo é externo ao portador. Ele DECIDE não atender a uma demanda fisiológica porque a demanda é de “alguém mais”, e não dele. Não é “ele” que ganhará excesso de gordura ou perderá peso através do comportamento, e sim “seu corpo”. O corpo é um fardo, um problema, algo inclusive odiado, porque rebelde e fora de controle.

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Você e os indicadores de saúde

O que cargas d’água faz um geólogo escrevendo sobre saúde?
De um tempo pra cá, passei a me preocupar um pouco mais com a saúde. Acho que são os 40 se aproximando e a certeza da mortalidade. Por outro lado, há muitas coisas que eu ainda não fiz e não estava conseguindo fazer, preso na minha prisão portátil: a obesidade.

No meu primeiro artigo, Ex-obeso… uma leitora fez o seguinte comentário: “Mais importante que o marcador da balança é saúde.”
Foi o mote para escrever este.

O que são indicadores de saúde

Indicador é qualquer coisa que eu posso “medir” e que, como diz o nome indicam alguma coisa.

Normalmente usamos indicadores para avaliar alguma coisa que não conseguimos definir direito, ou que é simplesmente muito complicada para entender por alto. Nesse caso, preferimos trabalhar com uma quantidade menor de “números”, que facilita entender o que está acontecendo.

Por exemplo, como definir o que é saúde? Eu diria que é muito mais que a ausência de doenças. Eu diria que é a ausência da probabilidade (no sentido estatístico) de uma doença.
Por exemplo, se sua pressão arterial está dentro de uma faixa de valores (abaixo de 140/90 mmHg, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão), dizemos que a pressão está boa. É um indicador de saúde.

Sua frequência cardíaca é outro. É comum ouvirmos que um adulto normal tem frequência cardíaca em repouso entre 60 e 90 (batimentos por minuto- bpm). Se você é atleta, pode ter bem menos. Ayrton Senna, por exemplo tinha perto de 50 bpm em repouso. Se sua frequencia está muito alta, ou é irregular, é uma indicação que algo não está bem.

Podemos então, enumerar uma série de indicadores de saúde: peso, IMC, %BF (porcentagem de gordura corporal) freqüência cardíaca, pressão arterial, colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos, glicemia em jejum, etc, etc…

O problema com os indicadores

O problema é que muitas vezes, esses indicadores são tratados apenas como números num papel. A pessoa do outro lado só quer que eles fiquem num determinado patamar. O que acontece frequentemente é que esses números indicam a condição de um determinado subsistema metabólico, isolado dos demais.

Pense num piloto que voa seu avião olhando apenas para o painel de instrumentos: altitude correta, combustível suficiente, pressão do óleo boa, temperatura do motor, vôo nivelado, trem de pouso recolhido e travado, direção correta. Tudo bem, certo? Errado, ele esqueceu de olhar para fora e não percebeu que um leve vento o tirou da rota planejada e agora está indo direto para um morro!

Alguns profissionais esquecem de olhar o conjunto. O corpo humano é um sistema. Você não tem nada sobrando no seu corpo e tudo o que está ali tem um motivo. Pode ser que não saibamos ou não entendamos sua razão, mas sobrando, não está.  Só separamos o corpo em sistemas poque é mais fácil entender as coisas separado, mas muitas vezes, esquecemos de juntar e perceber que tudo funciona em conjunto. Se uma partezinha sair lugar, pode desajustar a máquina toda.

Um exemplo disso é a gordura corporal. Até pouco tempo atrás se achava que era só “banha”, sem nenhuma função. Mas de uns tempos pra cá, se sabe que ela também tem função endócrina (é um órgão!) e secreta alguns hormônios, entre eles a leptina, responsável pela saciedade.

Então, quando você pegar seus exames no laboratório e estiver escrito algo na linha “estes resultados devem ser avaliados por um profissional”? Eu diria mais: estes resultados devem ser avaliados por um bom profissional, muito competente”.


A galinha de bloquinhos lego

Recentemente li um artigo em um site de halterofilismo sobre os alimentos que aumentam a força do ser humano que me chamou a atenção, não por que ele contivesse alguma descoberta milagrosa, mas por, em pleno século XXI, ainda existirem pessoas que acreditem nessa possibilidade.

Desde tempos imemoriáveis existe essa crença no poder dos alimentos, seja para o aumento da força ou da virilidade. Na nossa cultura mesmo encontramos vários exemplos que vão dos ovos de codorna a pfafia paniculata, se bem que esta última até contem alguns princípios ativos interessantes.
Mas e os alimentos? Como um caldo de mocotó ou uma buchada de bode pode aumentar a força de um ser humano?
escultura de lego
Para entendermos de uma vez por todas, e também para que consigamos explicar para as pessoas que ainda insistem nessas crendices, a melhor maneira é recapitularmos nossas aulas de bioquímica e fisiologia.

Todo alimento ao ser ingerido vai ser reduzido aos seus menores compostos moleculares para ser absorvido, isto é, um bife, um ovo, uma galinha se tornarão um amontoado de aminoácidos, assim como as batatas, o arroz e o macarrão serão reduzidos a monossacarídeos e o torresmo, o azeite e a manteiga serão reduzidos a colesterol, ácidos graxos e monoglicerídeos.
Só depois, quando esses nutrientes chegarem às células e que o nosso metabolismo celular irá decidir o que fazer com eles, usá-los ou armazená-los.
Caso ele opte por usá-los isso será feito de acordo com as reais necessidades e não onde queremos que eles sejam utilizados. Por isso um whey importado de última geração que custou uma bagatela poderá virar cabelo, unha, pele e até mesmo ser excretado antes de ser usado para aumentar a massa muscular, o que dizer então dos efeitos sobre a força muscular?

Bem, os nossos músculos precisam de combustível para se contraírem e gerarem os movimentos, porém esse combustível é a glicose e o glicogênio, um polímero de moléculas de glicose ao qual o músculo recorre quando é muito solicitado, e mesmo que nos entupíssemos de glicose a nossa força muscular não iria aumentar pois o que a comanda a contração muscular são os impulsos elétricos enviados pelo sistema nervoso às fibras musculares que, segundo ENOKA ( 2000 ) dispõe de três mecanismos fundamentais para regular a intensidade da contração muscular:
1 – o número de unidades motoras recrutadas,
2 – a frequência de ativação das unidades motoras,
3 – a sincronização da ativação das unidades motoras

E isso nós só conseguimos com o treinamento que nos permitirá adquirir um controle maior sobre nossos movimentos, mas se quiser se entupir de caracu com ovo de pata e paçoquinha e isto o faz se sentir mais forte, vá em frente, afinal o efeito placebo faz milagres.
No entanto faria mais sentido procurar ter na alimentação diária os nutrientes que o corpo precisa para manter o sistema nervoso em dia, principalmente os que ele precisa para a manutenção da bainha de mielina, que é um tipo de isolante elétrico que permite uma condução mais rápida e mais eficiente dos impulsos elétricos, e ela é formada basicamente por ácidos graxos cujas melhores fontes são linhaça, abacate, óleos de peixe, salmão, sardinhas, nozes, feijão, lentilhas, etc.

Bom apetite.

Bibliografia:
ENOKA, R. Bases Neuromecânicas da Cinesiologia. 2ª ed. Manole, São Paulo. 2000.


Comida de verdade, sem pesar no bolso.

Em meados de janeiro, a Marília escreveu um artigo, que é o cerne do que vimos discutindo nos bastidores há algum tempo.

O assunto é recorrente na paleosfera (tem este artigo bem ilustrado) e de maneira geral, é uma pergunta que qualquer um que faz uma “dieta estranha” volta e meia escuta.

Este artigo, apesar de longo (é o maior que já escrevi aqui), está longe de esgotar o assunto. Estou tentando apenas mostrar algumas alternativas.

Meu depoimento é bem simples: em casa (dois adultos que trabalham fora), não aumentamos a despesa mensal. No entanto, comemos comida mais gostosa e acrescentamos alguns ingredientes mais caros, já que estamos comprando mais queijos importados e mais vinhos.

Nós amamos ovos!

Nós amamos ovos!

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O invisível envenenamento do seu corpo no visível envenenamento do planeta

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Ser onívoro e manipular racionalmente sua alimentação é uma opção entre o existencial e o técnico. Diz respeito a estilo de vida, à apropriação de si mesmo quanto a um aspecto fundamental da corporalidade, que é a ingestão de alimento. Ser vegetariano pode ser uma opção de cunho espiritual, político e ideológico, e assim integrar o indivíduo a si mesmo num outro plano. Adotar uma alimentação sem lixo químico e produzida segundo padrões de ética não é uma opção: é uma obrigação com o planeta, com a sociedade e com você mesmo. No fundo, todos sabemos em maior ou menor grau que isso é verdade. O problema é viabilizar esta prática mandatória.

Estamos falando sobre o consumo de alimentos orgânicos. Eu sempre impliquei com este termo. Assim como impliquei com a “cozinha natural”, produtos “bio” e produtos ecológicos. Lembro inclusive que, ainda na faculdade, o professor de Ecologia Geral se enfurecia com os ambientalistas que se apropriavam do termo, dizendo que toda esta prática poderia ser designada no máximo como “ecófila” (amiga da casa) – jamais “ecológica” (conhecedora da casa). Orgânico era pior: existe leite inorgânico? E sal? Não pode comer sal? Sal – seja ele refinado ou não – é NaCl. Do ponto de vista da nomenclatura química, é um composto inorgânico. Ler no rótulo de sal marinho a chancela de “produto orgânico” me dava uma pequena revolta. “Cozinha natural” dava mais pano para manga: podíamos passar horas e horas discutindo a complicada fronteira entre o natural e o artificial, conceituando como artifício tudo aquilo que passa pelo engenho humano. Como cozinhar, por exemplo. “Bio” era piada.

O termo orgânico, no entanto, bem como o conjunto de ações e abordagens intelectuais à questão alimentar relacionadas a ele, tem uma origem menos óbvia. Vem da concepção holística e ecologicamente equilibrada da “fazenda como um organismo”, proposta em 1939 por Lord Nothbourne em seu livro Look to the Land (Paull 2006).

Não é surpreendente que esta proposta tenha surgido ao final dos anos 1930s. Foi durante este período que ocorreu a primeira grande catástrofe agro-ecológica moderna – o Dust Bowl.

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Estilo de vida e Nutrição Ancestral

Basicamente foi por causa da minha curiosidade e estudos sobre esses dois tópicos que vim parar neste projeto.
Nada mais justo que um artigo só sobre isso.

Sobre o grande guarda-chuva do Estilo de Vida e Nutrição Ancestral, vamos encontrar tanto coisas que podem se encaixar na haute cuisine, quanto estilos como o Paleo e a Primal, seus exemplos mais famosos até a Nourishing Traditions, da Fundação Weston A. Price.

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Canal do Campo à Mesa

Imagem

Por Hugo Quinteiro

Amigos, este é um canal bem interessante e que tem um tema bem próximo com o nosso blog: o controle sobre aquilo que comemos. Este canal mostra que existe uma indústria forte, bem preparada e, principalmente, amparada por uma legislação bem tendenciosa onde o maior protegido não é o consumidor final e sua saúde. Vale a pena ver os vídeos e se inscrever no canal.

 

http://www.youtube.com/user/docampoamesa/videos

 

Abraços e boa DIETA


Riscos

Risk-Taking

Terminei o artigo sobre decisão dizendo que tomar consciência de que a decisão, ainda que não seu processo, é irredutivelmente sua é um momento empoderador. Saber que a decisão é sua não implica que o exercício deste poder será sempre feito de maneira a maximizar a saúde, o bem estar e a harmonia.

A vida não é assim. Qualquer vida que mereça o selo de densidade e intensidade contém uma dose variável de riscos. Entre o extremo de aversão a risco e o extremo de bancar o risco há um gradiente. Cada um se coloca neste gradiente onde pode – não necessariamente onde quer. Esse lugar é determinado por uma combinação entre elementos intríncecos (personalidade, história de vida, humor) e extríncecos (fases mais ou menos hospitaleiras a risco).

Há aqueles que tocam um foda-se e assumem riscos que fascinam e assustam a imensa maioria.

Isso vale para qualquer aspecto do comportamento humano. Não seria diferente no comportamento alimentar.

Neste tópico, por diversos motivos, incluo o comportamento adictivo.

Todo mundo faz avaliação e análise de risco. Ela é um campo de investigação acadêmica e de saber aplicado, com modelagem matemática sofisticada. No entanto todos somos dotados de uma das ferramentas mais eficientes para a avaliação e análise de risco: o medo.

O risco é o produto da probabilidade da consequência negativa de algo ocorrer e da perda esperada no caso que ocorra.

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O futuro não é mais como era antigamente.

“Nos deram espelhos e vimos um mundo doente!”

Com essas duas citações dos anos 1980, começo mais uma de muitas reflexões.

Num certo país, um certo político que se gabava de sua progenitora ter nascido analfabeta, prometeu que em seu governo, seus concidadãos fariam 3 refeições ao dia. Antes disso alguns de seus correligionários haviam ficado famosos por combater a fome e a pobreza.
Logo depois, o órgão oficial responsável pelo recenseamento declarou que os pobres estavam obesos. Aí surgiu o paradoxo do superalimentado e subnutrido.

Enquanto isso, no Brasil, o jornal O Estado de São Paulo, publicou, em 2004

“[…]

E o mais notável é que se inverteu a proporção entre adultos desnutridos e pessoas com excesso de peso: há 30 anos, havia mais desnutridos que gordos e obesos. Hoje, existem no País 8 milhões de adultos desnutridos – que comem menos do que o necessário para uma vida saudável – e 38,8 milhões com excesso de peso, entre os quais 10,5 milhões de obesos. E a linha de pobres e indigentes, nessas três décadas, acompanhou a curva da desnutrição, ou seja, no período, reduziram-se à metade os dois índices.

[…]

O que é paradoxal é que a desnutrição – também um problema de saúde pública – está deixando de ser um flagelo endêmico e em seu lugar surge outro problema de saúde pública, igualmente grave: o excesso de peso e a obesidade. Constatou a pesquisa que esse fenômeno se deve menos à quantidade de comida à disposição das famílias e mais à qualidade da alimentação. O uso mais farto e disseminado de alimentos industrializados e o hábito de fazer refeições fora de casa contribuem para essa mudança. Apesar da dieta dos mais ricos ter 30% mais de calorias do que a dieta diária das camadas mais pobres, o cardápio dos mais ricos é mais desajustado. Mas a obesidade também é um problema dos pobres: atinge 10,3% das pessoas que recebem de meio a um salário mínimo mensal.

A partir dessa pesquisa, pobreza e fome, que eram fatores iguais numa mesma equação, terão de receber pesos diferentes, na orientação dos programas sociais do governo. Como observou o representante da ONU no Brasil, Carlos Lopes, “o problema da fome tratado pelo presidente Lula é mais uma questão emocional, devido a ele não tolerar moralmente que haja alguém que passe fome. Do ponto de vista macro, a fome não é o problema principal. Nem pensar”. […]”

As jornalistas Lucila Soares e Cecília Ritto escreveram na Veja, em 2010:

“[…]

O sobrepeso atinge mais de 30% das crianças entre 5 e 9 anos de idade, cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos e nada menos que 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos. Entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população de mais de 20 anos. Também nesse grupo concentra-se o maior percentual de obesos: 16,9%.

[…]

A POF de 2002/2003 mostrou que as famílias estão gradualmente substituindo a alimentação tradicional na dieta do brasileiro – arroz, feijão, hortaliças – por bebidas e alimentos industrializados, como refrigerantes, biscoitos, carnes processadas e comida pronta. Tudo mais calórico e, em muitos casos, menos nutritivos. […]”

A Marília Coutinho, semanas atrás escreveu “O peso da pobreza“:

:

“[…]

Embora os países sejam muito diferentes em suas culturas alimentares, alguns padrões têm emergido:

  1. As maiores taxas de obesidade ocorrem nos grupos com maior taxa de pobreza e menor índice educacional;
  2. Existe uma relação inversa entre densidade energética (kcal/kg) e custo energético ($/kg).

Estes dois padrões explicam muita coisa. Os grupos mais pobres e menos educados têm menos dinheiro para investir em alimentação e menos informação quanto ao alimento. Assim, o alimento possível – pela carência de recursos econômicos e educacionais – é o de pior qualidade: denso em calorias, com grande quantidade de gordura e açúcares e pobre em proteína, fibras e vitaminas.

O pobre obeso é um desnutrido proteico e vitamínico e um sobre-alimentado calórico. […]”

O que aconteceu?

É mais ou menos inegável que do final dos anos 1990 para cá, o poder aquisitivo de uma parcela considerável da população aumentou. Em outras palavras, mais pessoas passaram a ter dinheiro sobrando. Com isso, novos hábitos foram incorporados, como o de comer fora.

Eu me lembro bem do surgimento de vários restaurantes “por quilo” perto de casa, num bairro residencial de São Paulo.
Um bairro que só tinha uma pizzaria, algumas padarias e alguns botequins.
De lá pra cá, aumentaram não só os restaurantes por quilo, mas também os restaurantes rodízio e as pequenas lojinhas, não mais que uma portinha, para a venda salgadinhos e outras guloseimas.
Comer num restaurante, um hábito antes restrito aos abastados, passou a fazer parte do quotidiano do proletariado, que antes dependia da marmita ou da “quentinha”.
Também cresceram as franquias de redes destinadas a vendas de lanches como os fast-foods, com a chegada de várias redes estrangeiras e também algumas nacionais, focadas no mineiríssimo pão de queijo e no conhecidíssimo chá mate.

Com tanta fartura de comida na rua, para todos os gostos e bolsos, para quê gastar tanto tempo em casa, acordar mais cedo para cozinhar a marmita e levar para o trampo, correndo o risco de azedar o feijão? No meu tempo de estudante, vivia de marmita, mas era a mãe quituteira quem fazia, enquanto cozinhava “pra fora”

Fast food basicamente é composto por coisas hiperpalatáveis, como comentei em Obesidade como Sintoma.
Como tal, são carregadas de sal, açúcar e outros carboidratos de alto índice glicêmico e óleos de sementes.
Essas coisas te fazem comer muito, pois são projetadas (mesmo!) para dar prazer e de alguma maneira te deixam saciado (mas não muito).
Mas algumas horas depois (menos do que seria esperado dada a bomba calórica recém ingerida) você está cheio de fome e de vontade de voltar lá e comer outro lanche mega-monstruoso maior que o do almoço.

Aqui vai um relato pessoal, da vivência dessa situação que acabei de comentar:

Em 1995, eu cursava o último ano do curso técnico e fazia o estágio, conforme exigência curricular.
O estágio era numa indústria farmacêutica na Zona Sul de São Paulo. Como é comum, havia um refeitório e comida farta, preparada no local, balanceada e cardápios montados por nutricionistas. Na entrada do refeitório, ficava uma amostra do cardápio do dia, com indicação do valor calórico de cada prato/porção.

Ao final da jornada de 8 horas na fábrica, ia para a escola, na Zona Norte. Pouco antes do meio do ano, foi inaugurado um novo shopping center, no terreno ao lado da escola. Estrategicamente, havia um portão que dava acesso direto da escola para o shopping.
Eu, feliz e contente com os R$360 (mais de 3 salários-mínimos) da bolsa-estágio parei de jantar na lanchonete da fábrica e passei a jantar um lanche “de número”, da famosa lanchonete do palhaço.

Ao final do ano, eu havia engordado 8 a 10kg.

Esse ciclo, de engordar 10kg num ano de mudanças, se repetiu várias vezes a partir de então, até que em 2012 encostei nos 120kg e passei a ser proativo com a minha alimentação.

O que mudou no mundo?

Menos pessoas preparam a própria comida, entregando a outros (no restaurante ou numa fábrica) a responsabilidade pela própria alimentação. Acreditam, ingenuamente, que um “steak” de frango é um pedaço de frango empanado, como se faz em casa. Acreditam, ingenuamente, que a comida é preparada com os mesmos ingredientes e cuidado que se usa em casa.

Como diz meu pai, cozinha é química. E os engenheiros de alimentos sabem muito bem. Certos preparos e certos ingredientes não podem ser congelados, ou armazenados e transportados em caixinhas bonitas. Algumas coisas precisam ser trocadas e outras adicionadas. Normalmente terminam em “-antes”. Mas essa comida não é como a de antes.

As coisas que as fábricas colocam dentro das caixinhas servem para enganar os seus sentidos e dar cor, sabor e textura onde não há nada. Seu cérebro sentiu o gosto e a textura de algo familiar, mas seu corpo não recebeu aqueles nutrientes. Você engorda (o que vai te deixa doente) e fica doente (por quê não recebeu os nutrientes que precisava).

As caixinhas coloridas e bonitas servem para enganar o cérebro do consumidor otário (você!), e convencê-lo que ele precisa do que está dentro do pacote.
Da próxima vez que for ao mercado, tire uma foto (ou observe) as cores das embalagens dos produtos de limpeza, dos refrigerados e das caixinhas de papelão com coisas comíveis dentro. Compare. É surpreendente.

Como reverter?

“Vote com sua carteira”. “Vote com seus pés”.
Compre comida de verdade, coisas que sua avó ou bisavó reconheceria como comida. No tempo dela, talvez a única coisa que viesse na caixinha fosse o amido de milho e os flocos de milho. O resto era comida de verdade. Comida de verdade, ESTRAGA.
Antigamente as pessoas tinham jeitos malucos de conservar a comida. Afinal, geladeira era coisa da cidade grande, ou de gente muito rica.

As carnes eram salgadas, defumadas, ou fritas e mergulhadas na banha do próprio animal que as forneceu. Os miúdos eram moídos e transformados em embutidos, muito condimentados e ás vezes defumados. Hortaliças eram postas a fermentar. Leite fresco (e cru) virava coalhada (fermentada), manteiga e queijos (fermentados, de novo).

Concluindo

Assumir a responsabilidade pela própria alimentação, longe de ser uma forma de combater a (sua) obesidade, é a forma mais eficaz de cuidar da sua saúde. Lembra da sua avó (ou bisavó) dizendo que vitamina se compra na quitanda?

Ela tinha razão.