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O invisível envenenamento do seu corpo no visível envenenamento do planeta

crop spraying

Ser onívoro e manipular racionalmente sua alimentação é uma opção entre o existencial e o técnico. Diz respeito a estilo de vida, à apropriação de si mesmo quanto a um aspecto fundamental da corporalidade, que é a ingestão de alimento. Ser vegetariano pode ser uma opção de cunho espiritual, político e ideológico, e assim integrar o indivíduo a si mesmo num outro plano. Adotar uma alimentação sem lixo químico e produzida segundo padrões de ética não é uma opção: é uma obrigação com o planeta, com a sociedade e com você mesmo. No fundo, todos sabemos em maior ou menor grau que isso é verdade. O problema é viabilizar esta prática mandatória.

Estamos falando sobre o consumo de alimentos orgânicos. Eu sempre impliquei com este termo. Assim como impliquei com a “cozinha natural”, produtos “bio” e produtos ecológicos. Lembro inclusive que, ainda na faculdade, o professor de Ecologia Geral se enfurecia com os ambientalistas que se apropriavam do termo, dizendo que toda esta prática poderia ser designada no máximo como “ecófila” (amiga da casa) – jamais “ecológica” (conhecedora da casa). Orgânico era pior: existe leite inorgânico? E sal? Não pode comer sal? Sal – seja ele refinado ou não – é NaCl. Do ponto de vista da nomenclatura química, é um composto inorgânico. Ler no rótulo de sal marinho a chancela de “produto orgânico” me dava uma pequena revolta. “Cozinha natural” dava mais pano para manga: podíamos passar horas e horas discutindo a complicada fronteira entre o natural e o artificial, conceituando como artifício tudo aquilo que passa pelo engenho humano. Como cozinhar, por exemplo. “Bio” era piada.

O termo orgânico, no entanto, bem como o conjunto de ações e abordagens intelectuais à questão alimentar relacionadas a ele, tem uma origem menos óbvia. Vem da concepção holística e ecologicamente equilibrada da “fazenda como um organismo”, proposta em 1939 por Lord Nothbourne em seu livro Look to the Land (Paull 2006).

Não é surpreendente que esta proposta tenha surgido ao final dos anos 1930s. Foi durante este período que ocorreu a primeira grande catástrofe agro-ecológica moderna – o Dust Bowl.

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